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SGS: Porquê a criação de uma Associação de Ética Empresarial em Portugal?Mário Parra da Silva: Um grupo de empresários e dirigentes de empresas sentiu que a via da excelência organizacional exigia encarar a questão dos valores éticos e do seu papel na relação com os vários públicos da empresa.
A ideia central era que todo o esforço de educar comportamentos e criar processos era minado e desvirtuado se não ocorresse a interiorização pelos colaboradores dos valores éticos que a empresa adopta como essenciais à sua sustentabilidade. A Associação Portuguesa de Ética Empresarial (APEE) propôs-se a apoiar as empresas nesse esforço, passando “dos conceitos e teorias sobre Ética e Responsabilidade Social para a definição e implementação de programas concretos que motivem as empresas a desenvolver princípios éticos orientadores que, por sua vez, conduzam a práticas de gestão mais socialmente responsáveis.”
SGS: Quais são os principais projectos da APEE?M.P.S.: Desde 2004, acompanhar o trabalho internacional nesta área conduzido pela ISO - International Organization for Standardization, reflectindo-o em acções e produtos adequados à nossa realidade. A maioria dos nossos recursos está envolvida no trabalho de normalização. Somos o Organismo de Normalização Sectorial para a área da Ética e da Responsabilidade Social. Temos projectos formativos próprios e, em parceria com outras instituições, conduzimos processos de consulta e análise de opinião. Através da nossa integração na Confederação do Comércio e Serviços de Portugal apoiamos a formulação e implementação de políticas e códigos de ética.
SGS: Para a APEE o que é um comportamento ético?M.P.S.: As pessoas comportam-se de acordo com o que acreditam. Tem sido dito como uma verdade evidente por si só, que o negócio e a ética se excluem mutuamente. Tal não é verdade. O negócio implica um certo grau de confiança. A confiança implica reconhecer valores confiáveis no interlocutor. O comportamento é reconhecido como ético quando está conforme os valores que a organização decidiu adoptar e que promete aos seus públicos, desde que o tenha feito de forma abrangente e inclusiva, o tenha publicitado adequadamente e verifique o seu impacte. Nenhuma organização promete maus valores.
SGS: Qual é a sua opinião sobre o comportamento ético dos gestores portugueses?M.P.S.: A esmagadora maioria tem um bom comportamento. Aliás, se assim não fosse já teriam fechado a porta. Ninguém pode ser não ético por muito tempo. O problema não está na falta de ética. Está no dilema ético, quando o gestor tem que decidir entre dois rumos de acção em que ambos servem algum interesse. A ética exige que seja leal à sua promessa mas pode ter a tentação de ser apenas fiel ao accionista, ou encobrir um caso, ou mentir a um cliente. Há sempre boas razões. No curto prazo parece bom, mas no médio prazo é sempre mau.
SGS: Até que ponto é que a crise financeira e económica que vivemos é resultado da falta de ética na gestão?M.P.S.: Também é, mas não exageremos. Numa crise deste tipo há muitas causas. A falta de ética dos mercados financeiros foi muito denunciada ao longo dos últimos anos, até pela APEE, mas ninguém queria ouvir. Estava a ser demasiado bom para se pensar que podia haver um colapso. Portanto, se houve falta de ética foi de todos. Os Bancos não podiam salvar o mundo e perder dinheiro, simplesmente não é a sua vocação. Ora as pessoas não queriam salvar-se, nem acreditavam nisso, queriam dinheiro sem perguntas incómodas.
SGS: Uma gestão ética pode ser uma das principais estratégias de combate à crise?M.P.S.: Agora que a casa caiu toda a gente vai exigir decência. As empresas que continuarem a não adoptar uma gestão baseada em valores éticos poderão ser duramente penalizadas. Corremos o risco que daqui a algum tempo os consumidores venham a cair num certo fundamentalismo ético. Será tão mau como seria a ‘república de juízes’.
A ética exige a virtude e o bom senso. Não pode ser tratada por organizações com estilo policial e denunciador. É um processo de melhoria e de diálogo. Acho que é essencial no combate à crise, porque só assim poderemos repor a confiança nos mercados e fazer com que o crédito volte a circular.
SGS: Como é que vê o futuro do tecido empresarial Português?M.P.S.: Penso que estamos em boas condições de reagir à crise. Somos inteligentes, trabalhadores e adaptáveis. Poucos na Europa têm as excelentes características do Português. A minha única dúvida é se Portugal quererá aproveitar os portugueses ou se, como aconteceu no passado, prefere mandá-los embora. Se deixarmos as nossas empresas e empresários trabalhar naquilo que sabem fazer, auxiliando-os a fazê-lo bem também do ponto de vista da Sustentabilidade Ética do seu negócio, em parceria responsável com as suas partes interessadas, tratando os empresários como criadores de riqueza e não como ‘exploradores’, teremos no futuro excelentes oportunidades a aproveitar.
Mas é essencial que a crise não seja paga apenas pelas empresas, com sobrecarga de impostos e exigências. A tentação de culpar as empresas é grande mas seria um grave erro. Todos temos de contribuir para reequilibrar o sistema. Há que consumir menos e melhor, há que ajudar a produção nacional, sem proteccionismos mas com preferências legítimas. Há que reduzir os custos de contexto, agilizar a justiça, flexibilizar as formas de emprego. A Responsabilidade Social é isso: trabalhar em conjunto para o bem das partes interessadas. As empresas são agora vistas como cidadãs, mas não apenas para lhes exigirmos. Terá de ser também para lhes darmos a possibilidade de trabalhar melhor e de forma mais rentável. Empregados que não dão o seu melhor, clientes que não pagam ou reclamam sem razão, fornecedores que não cumprem especificações, Estado que não proporciona justiça ou protecção, todos contribuem para que a crise continue e as empresas tenham mais dificuldade em criar riqueza. Na crise, precisamos de mais solidariedade e não de mais egoísmo. A cooperação é a chave do futuro que queremos. Sem ela o futuro será muito feio.
SGS: De que forma é que um Sistema de Gestão de Responsabilidade Social pode apoiar uma empresa a tornar-se mais competitiva?M.P.S.: De dois modos: por um lado porque melhora a relação com todos os seus públicos, com base em crenças e não em cosméticas propagandistas. Se conseguir das suas partes interessadas uma compreensão e aceitação de objectivos comuns, reduzirá custos directos e encargos indirectos de gestão. Por outro lado, irá criar um ambiente muito mais favorável à inovação e à descoberta de novos produtos e novas oportunidades. O Sistema de Gestão da Responsabilidade Social abre janelas para o mundo do futuro e deixa-o entrar na empresa.
SGS: Nos últimos anos a Responsabilidade Social Empresarial/Corporativa tem sido muito debatida. Pode-se inclusivamente dizer que este é um tema que está na moda. Até que ponto é que estas discussões se traduzem em práticas efectivas de Responsabilidade Social por parte das empresas? Não há um abuso na utilização deste conceito?M.P.S.: Houve um imenso abuso. Manobras de comunicação sem qualquer base real, empolamento de acções insignificantes, filantropia mais que suspeita convertida em responsabilidade, códigos de ética que não eram mais que códigos de disciplina para ilibar a empresa de responsabilidades, negócios legítimos mas que eram apresentados como investimentos em Responsabilidade Social porque eram em Angola ou em outro país em desenvolvimento, etc.
Mas no meio disso muitas empresas, se calhar as mais silenciosas, foram adoptando seriamente medidas de suporte a um futuro mais sustentável. Por isso, precisamos de normas que sejam bem auditadas e que assegurem ao mercado que alguém está a fazer o que diz estar a fazer.
SGS: As opiniões do senso comum dizem que a Responsabilidade Social está apenas ao alcance das empresas mais poderosas. Essa premissa é verdade? Adoptar, implementar e certificar uma política de Responsabilidade Social é só para alguns?M.P.S.: De modo nenhum. É para todos, empresas, autarquias, administração pública, terceiro sector, consumidores, etc.. Agora as pequenas empresas, na sua grande maioria, estão integradas em cadeias de valor. Quem dirige a cadeia tem responsabilidades especiais porque o pequeno fornecedor não tem autonomia para ditar as regras. Quanto ao custo, existe um certo investimento mas parece-me muito reduzido já que, para além do tempo interno, não implica comprar mais do que o apoio de um consultor que catalise a mudança de atitude e transmita o saber fazer.
SGS: A APEE foi uma das principais impulsionadoras da criação de uma Norma Portuguesa de Responsabilidade Social (NP 4469). Qual é a receptividade das empresas portuguesas a esta norma? Acha que estão preparadas para implementar e certificar-se de acordo com este referencial?M.P.S.: A APEE foi o organismo que enquadrou a criação da NP 4469, produzida por um magnífico painel de duas dezenas de especialistas, durante um ano e meio, sem qualquer remuneração nem compensação de despesas. Fizeram-no porque as organizações e empresas em que trabalham estão empenhadas na Norma. Ainda é um número reduzido, mas os que a adoptarem colocar-se-ão na vanguarda. Isso é liderança. Depois muita gente irá querer também.
SGS: Há sectores onde este referencial seja prioritário?
M.P.S.: Sim, principalmente todos os que exportam ou estão em fileiras muito expostas a mercados externos, porque Portugal tem um mau rating. As empresas portuguesas sofrem com isso porque pagam caro a percepção de risco. Ter implementado uma Norma de Responsabilidade Social é um factor de diferenciação e de competitividade, não podemos continuar a jogar na mão-de-obra barata.
SGS: Qual é a estratégia da APEE para impulsionar esta norma?
M.P.S.: A nossa estratégia consiste em falar dela na comunicação social, apresentá-la em eventos, formar auditores e consultores, divulgar em eventos de terceiros, fazer protocolos com universidades e outras associações.
SGS: Há a possibilidade da NP 4469 ser replicada e reconhecida noutros países?
M.P.S.: Já está a ser replicada, em adiantada fase, na Dinamarca, com consultas a outros países da Escandinávia. O objectivo é, após adopção formal pela Dinamarca, propor ao Comité Europeu de Normalização. Também houve interesse, ainda não concretizado, do Organismo de Normalização de Espanha. Tem, também, havido pedidos de informação de outros Organismos Nacionais de Normalização.
Porquê certificar uma empresa pela NP 4469? Poupança de recursos financeiros nas micro--empresas porque a norma incorpora os requisitos de ambiente e segurança; Confiança nos fornecedores, eliminando burocracias e a necessidade de auditorias de 2ª parte ou da verificação de códigos de conduta; Menores conflitos com ONG’s, comunidades locais, trabalhadores e seus representantes, entidades públicas, órgãos governamentais, etc.; Reforço das relações entre clientes e fornecedores pela s sua s actuações socialmente responsáveis, evitando processos judiciais e promovendo a cooperação; Salvaguarda de toda a cadeia de valor e confiança ao consumidor final; Sistema de Gestão baseado no ciclo PDCA integrável com os outros Sistemas de Gestão; Melhoria no acesso ao mercado de capitais e a financiamento, visto que estes recorrem cada vez mais a listas de verificação de carácter social e ambiental para avaliarem os riscos do investimento; Maior penetração em novos mercados pela quantidade crescente de consumidores a preocupar-se com a aquisição de produtos social e ambientalmente responsáveis; Maior produtividade, elevados níveis de criatividade e menor absentismo pela criação de um melhor ambiente de trabalho; Redução de custos com acidentes e doenças, através de sistemas preventivos relacionados com a higiene, saúde e segurança no trabalho; Reforço do desempenho individual e organizacional, pelo incremento das políticas de formação; Redução dos níveis de stress e absentismo dos colaboradores, através de políticas de conciliação da vida familiar e profissional; Atracção e retenção dos colaboradores mais talentosos; Gestão ambientalmente mais responsável, reduzindo a utilização e os custos dos recursos naturais; Melhoria da reputação e da imagem. Associação Portuguesa de Ética Empresarial (APEE)Adaptado de SGS Global 24
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